Olhar...


Hoje eu não vou escrever, mas vou deixar um poema que me chegou por acaso, mas será por acaso mesmo. Ele diz bem o que eu gostaria de dizer! Com vocês uma das vozes e pessoas de Fernando Pessoa


O meu olhar é nítido como um girassol....


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...


Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914
(um dos heterônimos de Fernando Pessoa)

Comentários

Ricardo Duarte disse…
Oi, Letty!
Adoro Fernando Pessoa. Bela escolha.
Saudades de você.
Beijos
Le, que lindo!!! Aplausos!!! Ah, Fernando Pessoa na pessoa de Alberto Caeiro é tudibom!!! Amo toda a sua leveza e beleza...

Adorei \o/
Ane disse…
Esse é o Fernando Pessoa!! Tem cada texto que tira o fôlego!!
Bjos!