Machado - Silviano Santiago


SANTIAGO, Silviano. Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. 424 páginas




O vencedor do prêmio Jabuti de 2017, recomendado em várias listas e resenhas pela internet a fora. O livro me chamou a atenção, antes mesmo das premiações que teve. Todos os textos, resenhas, notas sobre Machado de Assis sempre me chamam a atenção. A apresentação da obra no próprio site da editora nos conta o seguinte e para ler um trecho do livro disponibilizado pela editora, clique aqui.

Rio de Janeiro, começo do século XX. Viúvo e solitário, Machado de Assis sofre fortes dores e crises nervosas enquanto testemunha a modernização da antiga cidade do Rio de Janeiro. Em Mário de Alencar, filho de José de Alencar, o presidente da Academia Brasileira de Letras encontrará um precioso interlocutor, que também sofre terríveis crises nervosas e o encaminhará ao dr. Miguel Couto. Qual é a relação entre as convulsões de Machado e sua genial criação? Depois de narrar passagens inauditas das vidas de Graciliano Ramos e Antonin Artaud, Silviano Santiago oferece uma perspectiva totalmente original e audaciosa dos últimos anos de vida de um dos maiores romancistas de todos os tempos. 

Em um misto de romance, ensaio, biografia e também caderno de recortes, Santiago nos leva a conviver com Machado em seus últimos anos de vida, com suas angústias, a debilidade da saúde, sua amizade com Mário de Alencar, a solidão da viuvez, a mudança de um Brasil Monárquico e o nascimento de uma jovem República e por fim, o término de seu livro Memorial de Aires.

Quando iniciei a leitura, me vi em um Rio de Janeiro conhecido (conheço um pouco da cidade), através da lente de Santiago e guiado por Machado. A leitura não é fácil, mas mesmo exigindo uma concentração do leitor, nos traz detalhes riquíssimos de crítica literária, onde Santiago é mestre, além de estarmos no âmago dos acontecimentos daquela época tanto do ponto de vista político, social e literário. Além do foco que é acompanhar Machado de Assis nessa empreitada. 

Não é pré-requisito conhecer a obra Machadiana, mas ao longo do texto, vamos sendo levados à vários textos do Bruxo do Cosme Velho e a riqueza da construção das narrativas e suas personagens. Passaremos por vários contos, pelos livros Ressurreição, Esaú e Jacó, Memórias Póstumas de Brás Cubas e sempre falando também de Memorial de Aires. Tive vontade de reler, Memórias Póstumas e o Memorial de Aires, e quem não conhece, espero que tenha curiosidade e dê uma chance aos magníficos textos do maior romancista brasileiro.

Através desse caminho escolhido por Santiago para a composição do romance, podemos compreender mais a fundo a construção das complexas personagens de Machado, principalmente as femininas, como veremos a longo do livro e principalmente nos últimos capítulos. Todo o jogo de traição, amor, sexualidade afloram na obra machadiana. Será reflexo de sua vida com a querida Carolina, seu amor?

Dessa forma, podemos percorrer pelas falas se misturam durante o texto, entrelaçando obras e autor, focando tanto em um quanto em outro, diferentemente das biografias que conhecemos com foco no autor. Há várias digressões de Santiago, mas que se revelam interessantes para a sequência do texto.

O texto traz diversos autores e obras que fizeram parte da vida de Machado de Assis e de seus contemporâneos, é um convite para os leitores e demonstra a extensa pesquisa e erudição de Santiago.

Confesso que nos capítulos derradeiros, quando estamos chegando próximo aos últimos dias de Machado, fui ficando mais melancólica e economizando as páginas para não finalizar o livro. Para mim, foi uma grata experiência e me fez entender mais um pouco de Machado e sua escrita. Daqueles livros que ficam com você após a leitura, por bastante tempo.

Como disse Machado em Memórias Póstumas de Brás Cubas: O sonho vira convulsão. É beleza convulsiva. Assim é o livro de Santiago! 

Deixo aqui Santiago falando sobre Machado e a construção da sua obra.




Recomendadíssima a leitura!


Minha avaliação: 


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