Castello: a marcha para a ditadura - Lira Neto
LIRA NETO. Castello: a marcha para a ditadura. São Paulo: Contexto, 2004. 429 páginas.
Lira Neto com seu estilo peculiar de contar histórias, traz nesse livro a vida de Castello Branco e todos os bastidores e também o início do período da Ditadura Militar. Através de ampla pesquisa em arquivos, documentos pessoais e fontes da época, Lira Neto reconstrói a trajetória dessa personagem tão ambígua e complexa desde a sua infância até a sua ascensão ao poder. Cobrindo desde 1897 até seus dias finais em 1967.
Nos mostra todos os bastidores e articulações do Golpe Civil Militar de 1964 e de como a instauração desse regime de exceção trouxe malefícios à tão jovem República Brasileira.
No período que antecede o golpe, uma passagem do livro me chamou a atenção:
"O avião sumiu-se nos céus e eu regressei, triste e preocupado, para casa. Será que tudo se acabou?" - esta seria a última anotação do diário de Anísio como ajudante-de-ordens de Castello. Nos quartéis, o que se comentava era que, de fato, para o velho e adoentado general, tudo havia mesmo acabado. Sem saúde, sem forças, sem comando e sem tropa, sua carreira teria chegado melancolicamente ao fim. Era um homem condenado a uma velhice obscura e solitária. Um soldado sem quartel e sem futuro. Poucos apostariam, naquele momento, que a história de Castello, na verdade, estivesse apenas começando." página 214
É fato que não podemos falar em repetição da história, mas a partir da leitura desse livro é inegável trazer à tona algumas preocupações com a democracia atualmente.
Vejamos esse outro trecho que ilustra bem:
"Enquanto tentava equilibrar os pratos naquele malabarismo diplomático, Castello enfrentava a fúria dos protestos estudantis, a maioria decorrente justamente do polêmico acordo entre o Ministério da Educação e a USAID, sigla da United States Agency of International Development. O acordo MEC-USAID, de junho de 1965, previa uma completa reforma universitária brasileira, com base no sistema educacional norte-americano, que previa o fim gradativo do ensino gratuito e, além disso, a ênfase em cursos tecnológicos em detrimento da área de humanidades. O governo argumentava que o país em desenvolvimento necessitava mais de engenheiros que de filósofos e sociólogos. Os estudantes reagiam e diziam que estavam sendo boicotados justamente os cursos que formavam os cidadãos mais conscientes e críticos." páginas 370 e 371
Recomendo muitíssimo a leitura para quem quer conhecer mais um pouco da história de seu próprio país.
Por Letícia Alves
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